05/12/2014 17:43 
Texto Carolina Tarrío

 

Foto: Aline Casassa 

No fim, tudo vai dar certo. Não deu? É porque ainda não chegou ao fim!

O que faz uma pessoa enxergar a vida com esperança, encontrar o lado bomnaquilo que lhe acontece, pensar que tudo vai funcionar, que ela será capaz de resolver eventuais problemas e fazer de sua vida algo positivo? O psicólogo e professor da Universidade da Pennsylvania Martin Seligman, autor do livro The Optimistic Child (A Criança Otimista, ainda sem tradução no Brasil), decidiu estudar o assunto depois de notar que existem pessoas muito satisfeitas mesmo vivendo em condições precárias e outras nem tanto, ainda que tenham mais posses ou facilidades.

Martin começou a se perguntar: que fatores seriam determinantes para a sensação de estar de bem com a vida? Dinheiro? Saúde? Clima? Genética? Ele estudou diferentes países e situações. Descobriu, por exemplo, que ganhadores da loteria têm um período de felicidade e entusiasmo que dura cerca de 3 a 6 meses. “Passada a euforia, a tendência é que em um ano a pessoa volte ao mesmo patamar de satisfação com sua vida que tinha antes”, diz. Isso o levou a descartar o dinheiro como fator assim tão determinante. 

Um processo semelhante acontece com pessoas que sofrem acidentes e, de uma hora para outra, ficam paraplégicas. O choque inicial causa tristeza, desilusão, pessimismo. Mas, passado um certo tempo, a pessoa tende a recobrar novamente o nível de satisfação anterior. Martin comparou ainda pessoas de países com maior ou menor incidência de sol, com diferentes tradições, com distintos tipos de educação.

O psicólogo concluiu que todos nós nascemos com um certo “nível de contentamento”, uma faixa dentro da qual nos movemos. Ou seja, geneticamente, temos maior ou menor tendência ao otimismo, bem como à depressão. Mas Martin descobriu também que é possível trabalhar nossas capacidades e investir naquilo que nos faz sentir melhor, para, desse modo, viver no nível mais alto da faixa que nos foi destinada.

Afinal, para que serve ser otimista? 

Um estudo realizado com mais de 5 mil adolescentes australianos de 12 a 14 anos e publicado pela Academia Americana de Pediatria mostrou que níveis altos de otimismo reduzem pela metade a incidência de depressão, além de diminuir o uso de drogas, álcool e cigarro. Outra vantagem: os otimistas se envolvem menos em situações de risco, como brigas, dirigir sem carteira de motorista, fugir de casa, ser suspenso da escola ou pichar locais públicos. Outras pesquisas mostraram ainda que otimistas vivem mais, contraem menos doenças e tendem a ser melhor sucedidos em suas carreiras. A grande questão é: como cultivar esse sentimento?

“Eu nasci em uma família muito rabugenta, muito focada na falta. Sou a prova viva de que é possível mudar”, diz Mariana Sá, uma das fundadoras do MILC (Movimento Infância Livre de Consumismo) e mãe da Alice, de 9 anos, e de Arthur, de 4 anos, a quem ela tenta educar para viverem mais leves, enxergando o copo sempre meio cheio. “Era muito reclamona, mas percebi que me conectar com o presente e tirar dele o melhor que posso, me faz bem”, diz. Segundo Mariana, o segredo foi abrir mão de querer controlar aquilo que não governa, olhar as coisas em perspectiva e mudar o que está a seu alcance. “Se hoje me pego em um engarrafamento e sinto aquela vontade de começar a reclamar, digo a mim mesma: vamos fazer o melhor engarrafamento do mundo! Então ponho um som, aproveito para cantar, pensar, fazer ligações, olhar as árvores em volta.” A mudança de atitude parece ter funcionado. Outro dia, em um restaurante, Mariana e seu marido não gostaram muito da comida. Eles estavam comentando que era um absurdo cobrar aquele preço por um prato assim, tão gorduroso quando Alice disparou: “Que tal vocês aproveitarem? A comida já está ruim e a gente ainda vai comer com vocês reclamando?” 

Aqui vão algumas dicas do professor Martin e da Mariana para que seus filhos fiquem tão espertos – e ligados no otimismo – quanto a Alice.

Para ler, clique nos itens abaixo: 

1.            Combata o catastrofismo

O pessimista sempre espera pelo pior. E, dentro de seu pensamento, há alguns padrões, como: a) permanência: "Isso sempre foi e sempre será assim"; b) determinismo: "Nunca dá certo"; c) personalização: "Isso sempre acontece comigo" e d) impotência: "Eu não tive culpa, aconteceu." Se seu filho caminha por esse terreno, Martin aconselha a quebrar esse padrão: "Mostre a ele que nem tudo ocorre sempre da mesma forma. Que eventos ruins acontecem com todos nós, a grande diferença está em como cada um os encara. E, sobretudo, mostre que, se ele intervir, talvez o desfecho da situação seja outro. Pergunte ao seu filho: Você poderia ter mudado algo no rumo dos acontecimentos com algum esforço da sua parte?" 

2.            Ponha as coisas em perspectiva

"Faço um exercício constante com meus filhos para que eles percebam que a vida muda, melhora, que coisas evoluem. Mostro a eles como uma árvore que parecia seca e morta em alguns meses dá flor e frutos. Faço com que observem os ciclos da lua, da natureza. Também conto a eles como a humanidade mudou: se há 100 anos as mulheres não tinham direito a voto hoje não só votam como conquistaram várias presidências", diz Mariana. 

3.            Quebre a autoprofecia

Em geral, quem acredita que vai falhar, programa sua mente nesse sentido - e tem mais chances mesmo de falhar. Pelo simples fato de que, além do desafio, precisa combater sua crença negativa. Para romper esse ciclo, é possível seguir alguns passos, segundo Martin. Faça seu filho notar que está sendo pessimista. Externe esse pensamento e ajude-o a mudá-lo. Por exemplo, se seu filho faz declarações sobre si mesmo como: "Eu sou muito ruim em redação, com certeza vou mal na prova" ou "Eu sou um idiota", faça-o notar sua fala, o quanto há de determinismo nelas e proponha outras alternativas, como: "Você pode até não ir bem nesta prova, mas já foi bem antes" ou "Você pode ter feito isso de mau jeito, mas não significa que é um idiota. Você pode fazer melhor da próxima vez." 

4.            Celebre a abundância

Recentemente, Mariana aceitou um desafio: durante 100 dias, tinha de registrar e contar ao menos uma coisa boa que tinha lhe acontecido ao longo da jornada. Sua filha Alice acompanhou o processo e a ajudou na tarefa. Focar nas coisas boas, concentrar-se nelas, faz as ruins perderem importância. As crianças percebem isso facilmente. Assim como aprendem com o exemplo dos adultos. Se a tendência na família é criticar e valorizar o que há de ruim, o que não funcionou, a criança também fará isso. Se, ao contrário, você for daqueles que, num dia caos no trânsito diz: "Tenho certeza de que vou achar uma vaga rapidinho!", seus filhos escutarão o recado da esperança. 

5.            Ouça e encoraje seu filho

As preocupações de adultos e crianças são bem diferentes, mas nem por isso provocam menos angústia. Tente reconhecer os temores e dificuldades de seu filho para poder ajuda-lo, ouça o que ele diz, sem criticá-lo dizendo que aquilo "é coisa de criança". E encoraje seu filho a abraçar desafios, mesmo que ele esteja com medo de falhar ou ansioso. Coloque a ênfase na sua disposição para correr o risco, para tentar. Diga que você está orgulhoso por ele ter feito isso, mesmo com medo ou ansiedade. Valorize o esforço, a superação, independentemente do resultado final. 

6.            Leia boas histórias

As crianças aprendem com boas histórias. Se forem confrontadas com uma situação difícil na vida, que tal contar uma história na qual o personagem conseguiu analisar as possibilidades que tinha, persistir, passar pelo problema e solucioná-lo? Aceita uma sugestão"? O livro "João Esperto Leva o Presente Certo" tem como personagem central um otimista nato

 

Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/como-filho-otimista-819596.shtml

Alda Marques - Coordenadora Pedagógica do Fundamental I